As Corridas Na Cidade nasceram por várias razões. Nasceram de uma briga conjugal, nasceram por inveja ao Rio de Janeiro, nasceram por causa de uma Volta a França em bicicleta, nasceram porque três pessoas acharam que deviam passar da conversa à acção.
A briga conjugal não foi bem uma briga. O homem adorava correr, e toda a vida tinha corrido. A mulher adorava sofá, e toda a vida tinha sofazado. Um dia ela decide deixar as mantas e dedicar-se à corrida. Desafia umas amigas que também não mexiam um dedo há anos, e aí vão elas para a rua, feitas malucas, para correr.
O homem, feliz por ver a mulher a aderir à sua modalidade, diz-lhe, então: "Mulher, para onde vais, que eu vou correr contigo". Ouve do outro lado o que não quer: "Mas quem é que te convidou? Vai correr com os teus amigos, ou não tens amigos para correrem contigo?".
As palavras levaram-no a passar à acção. No dia seguinte, o marido está no Facebook a desafiar amigos para uma corrida pela cidade. Aparecem três, numa manhã gélida de Janeiro.
Foi o primeiro dia, a primeira Corrida Na Cidade.
Mas as Corridas na Cidade também nasceram por inveja ao Rio de Janeiro e a Nova Iorque. Em Dezembro, tive oportunidade de ir até ao Brasil, onde corri pela primeira vez no calçadão. Domingo foi o meu primeiro dia naquela cidade. Deviam ser umas sete e tal da manhã quando abri as cortinas do quarto de hotel. Lá em baixo, milhares de pessoas corriam, andavam, patinavam, pedalavam, de um lado para o outro. A cidade respirava desporto, alegria, energia. Lisboa é que devia ser assim, pensei. Mas como não sou só de pensar, sou também de fazer, tratei de dar o meu contributo para que Lisboa seja uma cidade mais desportiva, mais saudável, mais enérgica. As Corridas Na Cidade podem ajudar.
Mas isto também nasceu na minha cabeça, e nas minhas pernas, há sete anos, durante uma Volta a França em bicicleta. Na altura, fui enviado-especial de um jornal para cobrir a competição. A vida de jornalista em reportagem numa prova de ciclismo é dura. Acorda-se às seis da manhã, vai-se ao local de partida, entrevista-se quem tem de se entrevistar, os ciclistas partem, metemo-nos no carro, toca a acelerar pelas estradas alternativas, chega-se à cidade onde está a meta, come-se qualquer coisa à pressa, vai-se para a chegada, os ciclistas chegam, entrevista-se quem tem de se entrevistar, vai-se para a sala de imprensa, escreve-se, envia-se o material para o jornal, e depois parte-se em direcção à cidade onde fica a partida do dia seguinte. Quando isto acaba são 10 da noite. E é sempre assim durante 22 dias.
Achei um desperdício passar por cidades tão bonitas e não as conseguir ver. Foi por isso que desenvolvi a modalidade: Corridas Na Cidade. Levantava-me às cinco da manhã, calçava os ténis e ia correr pelas cidades. Traçava um mapa, passava pelos sítios mais bonitos, via o que queria ver, quase sempre por fora, porque àquela hora está tudo fechado, e por volta das seis e meia estava no hotel. Assim conheci Lyon, Montpellier, Marselha, etc. Foi melhor do que nada.
Resolvi, sete anos depois, recuperar a ideia e aplicá-la à minha cidade. E se andássemos a conhecer Lisboa pelo nosso pé? Passamos a vida a dizer que temos de ir ao Castelo, mas passam-se anos e nunca vamos lá. Passamos a vida a prometer um café na esplanada da Graça, mas há anos que não nos damos ao trabalho de cumprir a promessa. Os lisboetas conhecem mal Lisboa. Têm preguiça de ver a sua cidade. É também por isso que existem estas Corridas, que não são bem corridas, são experiências. E são experiências à borla, que fazem bem à saúde, que nos permitem conviver com outras pessoas, que nos tornam pessoas mais saudáveis, bem-dispostas e com uma auto-estima mais elevada.
Com tudo isto, a pergunta é: Mas por que é que ainda não se juntou a nós?
3 comentários:
excelente iniciativa, por todos esses motivos. sou fã das corridas à beira rio, mas estou desejosa de me juntar ao grupo. a ver se consigo já este fim-de-semana.
Parabéns pela iniciativa! E eu que sou do Porto e a partir de 2ªfeira vou trabalhar para Lisboa quero juntar-me a vós! Contem comigo! Vou estar atenta aos horários e dias..(blog?/FB?). Obrigada.
Susana Antunes
Adoro a história!
Um grande projecto sem dúvida ;)
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